sábado, 23 de maio de 2015

Estudo: Rejeição emocional e dor física

REJEIÇÃO SOCIAL E EMOCIONAL CAUSA TANTA DOR QUANTO A FÍSICA


Em um estudo publicado na revista “Proceedings of National Academy of Sciences” (PNAS), psiquiatras norte-americanos foram à procura das razões pelas quais as dores emocionais são tão fortes em algumas pessoas quanto as dores físicas.

Para o estudo, os investigadores, liderados por Ethan Kross, da Universidade de Michigan, nos EUA, analisaram 40 homens e mulheres que tinham passado por uma desilusão amorosa nos últimos seis meses. Todos tinham terminado uma relação afetiva, sendo que gostariam de tê-la continuado, e afirmavam sentir-se intensamente rejeitados.

Os participantes realizaram duas tarefas no estudo: uma relacionada com os seus sentimentos de rejeição; e outra sobre as sensações de dor física. Todas as tarefas foram avaliadas através de exames de ressonância magnética aos seus cérebros.

Durante a tarefa para aferir a intensidade da rejeição emocional, foi mostrado aos voluntários uma foto do seu ex-namorado(a) e perguntado sobre o que sentiram durante a sua experiência de rejeição; foi-lhes também mostrada outra foto, esta de um amigo(a), e questionados sobre o que sentiram sobre uma experiência positiva que tivessem tido recentemente com essa pessoa.

Para a tarefa destinada a avaliar a dor física, foi colocado um aparelho de estimulação térmica no antebraço esquerdo dos participantes. Em alguns testes, a sonda provocava um estímulo doloroso, mas tolerável, semelhante ao de segurar uma xícara de café bem quente. Em outros testes, os voluntários eram expostos a uma estimulação dolorosa não térmica.

Para a análise das imagens de ressonância magnética, além da observação das realizadas pelos voluntários, os cientistas compararam os resultados do estudo com as de um banco de dados com mais de 500 estudos anteriores de ressonâncias magnéticas sobre respostas do cérebro à dor física, emoção, memória, mudança de atenção, memória de longo prazo e de resolução de interferências.

Da análise das ressonâncias magnéticas, os investigadores verificaram que as duas situações de dor - a perda do namorado e sentir o antebraço a queimar - provocaram uma reação nas mesmas regiões cerebrais. E concluíram que o stress emocional causado, por exemplo, pela perda de uma pessoa querida afeta as pessoas da mesma maneira como se fosse um ato físico.

De fato, não deve ser por acaso que, em muitas culturas, a palavra dor é empregada tanto nas questões emocionais como nas físicas. "Descobrimos que induzir sentimentos de rejeição social ativa regiões do cérebro que estão envolvidas na sensação de dor física, que raramente são ativadas em estudos de neuroimagem da emoção", explicou o líder da investigação, em comunicado enviado à imprensa, acrescentando que "estes resultados são consistentes com a ideia de que a experiência da rejeição social, ou mais em geral, a perda social, pode representar uma experiência emocional diferente que é exclusivamente associada à dor física."

Em termos científicos, foi verificado que em ambas as situações existe uma sobreposição neuronal em duas regiões do cérebro - o córtex somatosensorial e a ínsula dorsal posterior - que se tornam ativas quando as pessoas experimentam sensações dolorosas. Segundo reforça Ethan Kross, "estes resultados dão um novo significado à ideia de que a rejeição social 'dói' " e podem conduzir ao desenvolvimento de fármacos capazes de minimizar a dor da perda.



Daniela Santana




Referencias:
Kross, Etan; Berman, Marc; Walter, Mischel; et al. Social rejections shares somatosensory representations with physical pain. Disponivel em: <http://www.pnas.org/content/108/15/6270.full>. Acesso em: 28 de maio de 2015. 

4 comentários:

  1. Muito bom o texto! Assemelha-se aos artigos publicados pela Scientific American, que faz uso da eletroestimulação do córtex para propor teses de patologias e alterações na funcionalidade do córtex cerebral e suas consequências na vida do homem.

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  2. Comparação bem interessante. Mas apesar de a dor da rejeição afetar partes semelhantes do cérebro, quando comparada com a dor física, a primeira sempre me pareceu bem pior, talvez pelo fato de não haver como amenizá-la. Estudos que levam a uma forma de melhorar dores emocionais são sempre bem vindos.

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  3. Toda dor é de grande importância, e muitas vezes por não ser associada a uma patologia não é dado atenção devida.
    Isabele Freitas

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  4. Comentário muito bem escrito e elucidativo. Estes estudos de RM funcional são elucidativos e não surpreende que sejam feitos tantos.
    Seria interessante ter a referência bibliográfica.

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